Ajuda aos vitimados do sismo do Haiti

Ajuda aos vitimados do sismo do Haiti

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Haiti precisa da ajuda internacional durante os próximos dez anos

Duas semanas depois do sismo, o futuro parece ter começado a bater à porta do Haiti. Deu-se oficialmente por finda a busca de pessoas com vida entre os escombros, e agora é tempo de passar à remoção dos destroços e erguer um país digno desse nome.

O futuro ocupou ontem, no Canadá, a conferência de "países amigos" do Haiti, que procuram traçar um roteiro sobre o muito que há a fazer.

Foi um apelo muito concreto, o que o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, lançou minutos antes da conferência, em Montreal: o Haiti precisa que o mundo se preocupe com os haitianos durante pelos menos cinco, dez anos. "O povo haitiano precisará de mais, e mais e mais para completar a reconstrução." As previsões do seu homólogo e anfitrião, Stephen Harper, vão no mesmo sentido: "A reconstrução demorará pelo menos dez anos."

Mas isso não quer dizer que o país não esteja em condições de decidir sobre o seu próprio destino. "O Haiti está capaz de tomar em mãos as rédeas da reconstrução", assegurou Bellerive. O país precisa de uma ajuda "maciça", mas "está em condições de assegurar a liderança que a população espera dele", cita a AFP. "A amplitude da tarefa exige que façamos mais, que façamos melhor e sem dúvida que façamos diferente."

O termo "reconstrução" foi muito usado pelos 20 países presentes na conferência; mas Bellerive não está "confortável" com a palavra. "As acções [futuras] devem permitir-nos relançar o país para a via do desenvolvimento. Não se trata apenas de voltar à situação anterior. Esta reconstrução afectará todo o país e devemos pensar em relocalizar uma parte da população."

Horas antes da reunião, que se destinava também a marcar a data para uma conferência de dadores daqui a dois meses, o chefe do Governo hatiano já tinha afirmado: "Demo-nos conta que um sismo que durou 30 segundos, destruiu mais de 60 por cento do PIB do país, porque tudo estava concentrado em Port au Prince. É preciso descentralizar."

Mas isso não é o mais urgente. "A prioridade absoluta no imediato é satisfazer as necessidades vitais das vítimas, como água, alimentos, abrigo e cuidados de saúde." Estima-se que entre um milhão e 1,5 milhões de haitianos estejam sem casa. São ainda mais os que precisam de assistência. E ontem surgiu aquele que as autoridades dizem ser o balanço final das vítimas do sismo de 12 de Janeiro: 150 mil mortos.

"Estamos prontos para ajudar", assegurou o chefe da diplomacia canadiana, Lawrence Cannon, citado pela Reuters. "Mesmo no meio desta devastação inconcebível, temos de começar a planear, a dar esperança onde existe desespero."

Bellerive afastou a ideia de um Plano Marshall para o Haiti, que tem sido frequentemente avançada. "O Plano Marshall tinha a característica de ter sido feito pelo general Marshall [para reconstruir a Europa pós-II guerra]. Eu quero um plano Haiti."

A anulação da dívida externa de mil milhões de dólares tem sido uma das respostas. É "interessante", disse ontem o primeiro-ministro, mas "não é o fundamental agora". "[A sua eliminação permitiria] libertar recursos que utilizamos para o serviço da dívida, mas face às exigências reais que temos em termos de investimentos, o peso da dívida é mínimo."

Na missão que o Haiti tem pela frente, "não há outra solução que a reintegração da diáspora", cita a AFP. "Não há recursos humanos suficientes. O único recurso que pode ser mobilizado rapidamente é a diáspora. Eu, como chefe do Governo do Haiti, não tenho outra alternativa. Precisamos de vocês."

Há muitos soldados nas ruas, mas não há uma liderança, acusou ontem o chefe dos Serviços de Protecção Civil de Itália. Guido Bertolaso foi duro nas críticas que fez à forma como os EUA estão a liderar as operações de auxílio de "uma situação terrível que poderia ser muito melhor gerida", afirmou. "Quando há uma emergência, dá-se um desfile de vaidades." E será isso que explica que "esta seja verdadeiramente uma demonstração de força, que está completamente desajustada da realidade".

Às operações, disse ainda na entrevista à televisão RAI, "falta um líder, uma capacidade de coordenação que vai para além da disciplina militar". Washington tem no terreno mais de 13 mil forças. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, diz que os soldados são "vitais".

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